sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Funcionário público é “tudo folgado”? Acho que você precisa rever seus conceitos

A motivação é interna de cada pessoa, no máximo pode ser estimulada. Isso posto, vemos que ao falar do funcionalismo público poucos são os que buscam aprofundar o conhecimento, e a maioria beira o senso comum pela rotulagem que dão ao servidor público.

Para começar Servidor Público não é profissão, somos administradores, advogados, arquitetos, economistas, médicos e tantos outros profissionais a serviço do cidadão, nosso verdadeiro patrão. A nossa condição de servidor público por escolha apenas determina o setor de atividade que atuamos.

Já foi o tempo em que o principal atrativo do serviço público era a estabilidade e que este atrativo gerava acomodação. O setor público vem profissionalizando seus quadros há algum tempo e conseqüentemente oferecendo melhores salários e benefícios atraindo assim, além de jovens recém formados, profissionais experientes do setor privado cansados da pressão por metas muitas vezes inatingíveis e jornadas de trabalho absurdas.

A mídia também faz esta rotulagem e contribui para a visão deturpada. Incomodo-me muito quando assisto, por exemplo, uma entrevista no telejornal e o gerador de caracteres informa como profissão do entrevistado “funcionário público”, como assim? Qual o cargo da pessoa?

Voltando para o ponto da acomodação, afirmo que depende da pessoa querer se acomodar. Conheço muita gente acomodada no setor privado, profissionais liberais acomodados, pequenos comerciantes, etc.

É possível fazer carreira no serviço público sim e conheço muitos casos. Vou dar meu testemunho como exemplo, tenho 52 anos de idade e 31 anos de serviço público, estou na sétima instituição diferente, passei por empresa de economia mista, empresa pública, administração direta e indireta municipal, estadual e federal. Iniciei como escriturário e hoje sou Analista Superior e designado para Função de Confiança de Chefe de Divisão.

Sou realizado profissionalmente, eu escolhi onde queria trabalhar, e sempre que sentia que não havia perspectivas de desenvolvimento retomava os estudos e partia para uma instituição melhor, mais estruturada. Curiosamente fui parar no RH na empresa anterior e na atual, fui contratado para trabalhar num projeto de Plano de Cargos, Salários e Vencimentos (PCSV). Pronto, encontrei minha praia! Foi pelo setor financeiro minha opção na Faculdade de Administração, passei para a área tributária que gosto muito até hoje e há quatro anos estou na Gestão de Pessoas e garanto, o setor público oferece condições cada vez melhores de crescimento atrelado a capacitação continuada, meritocracia e resultados.

O projeto no qual estou envolvido desde a minha chegada - que já é lei - criou mecanismos de mobilidade funcional com valorização salarial que é alcançada com base em requisitos de avaliação de desempenho por competências, assiduidade, horas de capacitação e titulação, criou até uma bonificação por resultados, um tipo de PLR do setor público. Costumo dizer que os mecanismos de mobilidade reconhecem o esforço individual e a bonificação premia o resultado da equipe. Já é bastante comum também encontrarmos instituições que possuem parte da remuneração variável baseada em produtividade.

Eu nunca tive um atraso de salário na vida, também nunca fui desligado porque a instituição faliu e nem convivi com demissões em massa. O que eu quero enfatizar é que essa nossa condição nos permite, por exemplo, que sejamos financiadores do empreendedorismo dos nossos filhos ou até de nós mesmos como forma de complementação da renda ou como preparação para uma nova atividade após a aposentadoria. Não sei se existe algum levantamento sobre o tema, mas certamente se for feito não se espante com o grande número de micro e pequenos empreendedores servidores.

Existe também uma grande parcela de atividade econômica que depende do setor público, um grande número de empresas presta serviços e fornece produtos ao setor, ou seja, gera muitos empregos diretos e indiretos, e conseqüentemente renda e consumo.

Em relação às deficiências do Estado na prestação de serviços públicos afirmo que é problema de má gestão, e a gestão é feita pelos políticos, que incham a máquina pública de cargos comissionados (aqueles de livre nomeação e exoneração). Estes gestores - os mandatários - são escolhidos pelo cidadão de forma democrática e legítima. Assim, cabe ao cidadão fiscalizar e cobrar de seus representantes o cumprimento das promessas de campanha e os planos de governo.

Falta ainda amadurecimento e interesse do eleitor no processo político e na gestão pública, existem muitos mecanismos de participação e fiscalização que simplesmente são ignorados pelo cidadão. Lamentavelmente os cargos comissionados, na maioria dos casos, são preenchidos por pessoas sem qualificação, sem comprometimento com a coisa pública, apenas para cumprir cotas dos partidos e de parlamentares.

Eu defendo exigência de formação superior para os cargos de assessoria e provimento dos cargos de chefia por servidores efetivos, estes sim comprometidos com a gestão pública.

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